sábado, 12 de abril de 2008

O Espiritismo e a Religiosidade

Há um constante conflito no campo das opiniões, a respeito da verdadeira posição do Espiritismo diante dos dogmas religiosos conhecidos por toda a sociedade, principalmente a sociedade ocidental, que é teoricamente “livre” dos fanatismos religiosos e dos antigos mitos do Oriente.


O termo “Religião” vem do latim – religio + onis – que significa o estudo dos deuses e de suas obras. O Espiritismo transcende amplamente estes conceitos, e adentra num campo mais filosófico e científico do que as abordagens presentes nas nossas religiões ocidentais. A filosofia espiritual consiste na forma como suas teorias apresentam-se em nossa vida. A doutrina de Alan Kardec tem sim um quê de religiosidade, pois apresenta Deus como uma força que rege o Universo e está acima de todas as coisas. No entanto, não crê em Deus como um homem ou um ser que está presente dentro dos templos, ricos ou pobres, ou pode ser aclamado através de gritos de louvor ou de ódio.

O renomado professor Herculano Pires definiu em síntese o Espiritismo como “a ciência do Espírito e de suas relações como o Homem, advindo daí uma doutrina filosófica de conseqüências morais ou religiosas”. Não há aí uma definição clara a respeito do papel do Espiritismo como sendo ou não religião. Contraditoriamente, há quem diga que não se trata de uma religião, visto que não há pastores, sacerdotes, dogmas, ou regras, e sim a certeza da vida como um acontecimento científico que não se encerra no momento da morte, persistindo ao longo dos tempos, através de novas encarnações que permitem a constante evolução espiritual. Tal definição aparece com maior consistência diante do papel pregado pela doutrina espírita desde Alan Kardec até Chico Xavier.


Trata-se na verdade de uma forma de ver o mundo e as pessoas que nele vivem, ou seja, um meio de encarar as realidades das quais nenhum de nós está livre, e de aceitá-las de forma mais consciente, vivendo de acordo com os reais desígnios de Deus – e aí sim existe a conotação religiosa – e sem desconsiderar a existência do próximo. A função científica da doutrina consiste em entender as razões de cada momento e cada acontecimento da vida sem que se pense em castigos divinos ou graças alcançadas. Tudo ocorre de forma a auxiliar no aprendizado necessário à evolução espiritual, tendo a própria vida como principal protagonista da nossa existência, e filosoficamente falando, reflete-se o cunho social e humanitário presente no trabalho espiritual, lembrando sempre, como já dito, a existência de um próximo, e condicionando a real felicidade à capacidade que cada um tem de sair de dentro de si mesmo e agir no intuito de diminuir a dor do outro.




A religiosidade é evidente no Espiritismo quando este considera a existência de Deus como detentor do comando do universo, mas o conceito atual de “religião” não se aplica às atividades propostas pela doutrina espírita, de forma que não é raro encontrar padres católicos ou pastores evangélicos crentes na existência de um plano espiritual e nos diferentes graus de sensibilidade humana. Cabe a cada um buscar a real compreensão do que a vida coloca em nosso caminho, como meio de encontrar a paz e a real felicidade, seja qual for a crença, o Deus ou a força que acreditarmos.

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