terça-feira, 8 de abril de 2008

Palavras ao Vento


"Palavras ao vento!". Talvez seja esta a melhor forma de expressar as coisas que eu vou escrever aqui. De fato, provavelmente serão palavras sem nexo, vindas de alguém que não tem mais o que falar, de alguém que simplesmente não entende mais as coisas do mundo, e muito menos como viver nele. Tudo é diferente, o certo está errado, o errado está certo. Os meus olhos não mais alcançam a realidade, e talvez eles nunca a tenham alcançado, porque realmente não aprendi a viver da forma como este mundo me permite! Tudo parece tão superficial, fútil e sem sentido. Tudo parece não passar de conveniências de momento e de aparências que para mais nada servem a não ser para demonstrar exatamente o que as pessoas não são.


Eu acordo todos os dias pela manhã, e sinceramente, não consigo enxergar os motivos pelos quais a gente estuda, trabalha, se esforça para ter uma vida melhor, e para oferecer algo de bom às pessoas a quem amamos - ao menos na teoria é assim! No entanto, cada vez mais sinto a hipocrisia e a demagogia rolarem em nossas veias em lugar do sangue que deveria estar lá para lembrar-nos que não somos frutos apenas das pessoas e das coisas que nos rodeiam, mas de todo um contexto social e humano que nos cerca, e que nos cercará até o fim de nossas vidas. Mas nosso egoísmo, nossa mesquinhez torna-se palpável, porque sempre esquecemos que não somos, apenas estamos.


Quando uma flor desabrocha num jardim é um sinal da presença de uma força maior no universo, mas quando pisamos nesta flor, com o perdão da comparação, pisamos também na mínima noção de humanidade que ainda nos resta. Quase sempre corremos tanto, lutamos tanto, mas por nós mesmos. E o outro, e o próximo? Ah, foda-se! Não é assim que pensamos? Se não pensamos, é assim que nosso subconsciente nos permite agir. Lutamos muito, e incessantemente, por nada! Nada que nos traga a real felicidade, nada que nos mostre o verdadeiro prazer de viver, porque neste mundo e nesta encarnação, muitas vezes sinto que este prazer sequer existe. Não porque não queiramos, mas porque o mundo e as relações humanas foram guiadas de tal forma, que está difícil se preocupar com nós mesmos, imagina ter que se preocupar com as outras pessoas? Então qual o sentido disso tudo, de tanta luta, tanto esforço, se não somos capazes de olhar nos olhos de um outro alguém e sentir a felicidade brotar deles também? Ser "feliz" sozinho me parece um pouco fútil, e fazer alguém feliz, seja amigo (a), namorado (a) ou qualquer que seja o tipo de relacionamento, me parece impossível, se na grande maioria das vezes não conseguimos sequer encontrar a essência de nós mesmos. A gente finge que é feliz porque temos posses, e finge que faz os outros felizes, porque eles sorriem. Mas ainda não somos capazes de entender a nós mesmos de maneira profunda, e talvez não sejamos ainda por um bom tempo.


Na solidão que há tempos e cada vez mais me corroe, continuo sempre perseguindo o sentido, não só para mim, mas para todas as outras pessoas, de estar aqui. E descobri que nos apegamos a coisas ou fatos que perante as nossas necessidades humanas, nada significam, porque a verdade é que não somos capazes de encontrar a felicidade dentro de nós mesmos, e buscá-la nos outros, é perda de tempo. Não temos a que ou a quem recorrer. Amigos, família, e o resto do mundo são apenas o nosso meio mais volátil de sustentar-nos aqui, como algum motivo no meio do nada, o fio de esperança para atingir o lugar nenhum! Mas comemoremos a fútil felicidade, nossa e dos outros, afinal, são apenas "palavras ao vento".


"... vamos celebrar o horror de tudo isso
com festa velório e caixão
está tudo morto e enterrado agora
já que também podemos celebrar
a estupidez de quem cantou essa canção"

Renato Russo

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