segunda-feira, 31 de março de 2008

Marginalização da cultura musical.

Muito se fala na cultura nordestina, em suas raízes e costumes. De fato, o Nordeste possui uma cultura extremamente rica em todos os aspectos. Temos um povo extremamente "culturalizado" e acima de tudo curioso e com disposição para aprender sempre mais. Tudo que é peculiar da região pode ser denominado como cultura ou costume. No entanto, vou reservar-me ao direito de discorrer sobre a cultura musical nordestina. É de conhecimento comum que um dos principais ritmos tipicamente nordestino, e talvez o mais importante, é o forró. O termo vem de "for all", em Inglês significa "para todos". Os colonizadores que habitaram nossa região conheceram o ritmo e o classificaram como "music for all", "música para todos", e daí, com a genialidade popular nordestina, o termou agregou-se e surgiu o nosso forró! Trata-se de um ritmo animado, descontraído, que geralmente faz as pessoas sentirem uma vontade incontrolável de dançar. Mas assim como todos os ritmos, possui algumas peculiaridades que infelizmente vêm sendo distorcidas por um outro estilo musical que insiste em auto-denominar-se forró. Infelizmente temos assistido uma marginalização total do forró de verdade, aquele tocado com uma sanfona e um triângulo. Agora as bandas de forró tocam baterias, baixos, guitarras, e outros instrumentos que mais caracterizam o rock americano do que o forró nordestino. Afora isso, a forma de dançar também parece ter mudado. O que chamam de "dançar forró" atualmente, até pouco tempo atrás chamava-se "esfregar-se" ou "xamegar", num termo mais regional, e em alguns casos inclusive, a coisa vai bem mais além. Como se não bastasse, o ritmo parece ter perdido totalmente a sua originalidade, inclusive em suas letras e melodias, que tinham por marca principal refletir problemas e sagas regionais, ou falar de sentimentalismos de uma forma amena, bonita e poética. Deixamos de cantar "Asa Branca" e "Qui Nem Giló", para cantar "putas no cabaré" ou "beber, cair e levantar", ou ainda coisas bem piores. Das melodias nem preciso falar, fora os recursos apelativos usados pelos atuais "forrozeiros", onde precisa-se colocar meia dúzia de mulheres semi-nuas num palco ou numa capa de CD pra atrair público, ou talvez para desviar a incompetência geral dos músicos, que não sabem absolutamente nada a respeito do que estão de fato fazendo ali. Os arranjos das músicas são realmente arranjos. Tudo é feito através de computador, e não tem nada pior do que se prestar atenção numa música de "forró" tocada ao vivo... ninguém sabe NADA, por isso, a maioria é playback. E os cantores então... pobres tímpanos! Hoje em dia ser loira gostosa ou ser cabeludo são os únicos requesitos para ser uma boa ou um bom cantor de forró! Voz, obviamente, fica em segundo plano, até porque, como dizem os admiradores desse desastre que chamam de música, "o bom é dançar!" E como até as porcarias são finitas, esses "músicos" ainda se acham no direito de roubarem músicas de grandes artistas nacionais e internacionais como Roberto Carlos, Mariah Carey, Chico Buarque, Ivete Sangalo, Elton Jonh, e adaptarem ao seu lixo musical, e claro, as versões ficam ridículas! Enfim, o fato é que o nosso verdadeiro forró de raiz foi completamente marginalizado, e já encontra-se de certa forma esquecido pelo grande público. Eu particularmente insisto em dizer que isto que estão fazendo hoje em dia não é forró, e não é sequer música, e fico imaginando como deve estar se sentindo o mestre Luiz Gonzaga onde quer que ele esteja, assistindo a tamanho absurdo diante de uma das mais belas criações que é o nosso verdadeiro forró!

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