domingo, 29 de novembro de 2015

Prazer, sou um débil mental

Quanto mais envelheço, menos sei viver. Dizem que a experiência nos faz calejados, mais cuidadosos, menos tensos... então, pensando em tudo o que dizem a respeito de crescer e aprender, chego agora a conclusão de que sou um completo débil mental.

Porque acredito no amor vencendo tudo. Acredito que a lealdade é mais importante que um rosto bonito. Acredito que o companheirismo e a dedicação vencem os defeitos. Não que alguém seja obrigado a aceitar o defeito do outro, mas que, no mínimo, as pessoas sejam respeitadas pelo que verdadeiramente são e não apenas julgadas pelos erros que cometem. Sou um débil mental porque acredito que, o amor, quando é verdadeiro, nunca acaba.

Sou um débil mental porque acredito em dar e receber atenção, apoio, carinho. Porque creio que ignorar uma pessoa ou seus sentimentos é o pior dos crimes que alguém pode cometer. Creio que o silêncio às vezes machuca e machucar o outro é ruim demais. Sou um imbecil porque eu só me sinto sufocado quando sou ignorado na minha imensa vontade de dar atenção e de cuidar das pessoas que eu gosto. Está errado. Deixe quem você ama voar, caminhar com as próprias pernas, mesmo que a pessoa se arrebente, caia, desande, morra no processo. Não importa. O certo é deixar ir. Como eu não sei ver pessoas queridas morrendo no processo e ficar de braços cruzados, sou um débil mental.

Sim, sou velho. Além de débil mental, velho! Ouço músicas velhas, seresta, brega, samba, rock progressivo, melódico, antiguidades que os jovens de hoje julgam músicas "cafonas" e "sem graça", porque não fazem a pessoa sentir vontade de balançar a bunda, encher a cara de cachaça e sair dando ou comendo todo mundo! Sou débil mental porque para mim, música é arte, não apenas diversão, se é que se pode chamar o que estão fazendo com a música de "diversão". Respeito o artista que preza pela poesia, pela mensagem transmitida, seja ela política ou de amor. Eu sou um débil mental porque não aprendi a ser "jovem" musicalmente nos dias de hoje.

Sou um babaca porque não gosto de academia, porque não tiro foto no espelho, porque acho essa coisa de "selfie" uma completa idiotice, porque amo viajar, aprender coisas novas, viver as coisas que eu gosto e que me fazem feliz. Legal é quem faz o que a sociedade acha correto. Vá malhar, ter um corpo definido, ser bonito, arrumar o cabelo, fazer plástica... vá agradar ao mundo, mesmo que o mundo te desagrade. Sou débil mental porque acho que é importante cuidar da embalagem sim, mas é mais importante cuidar do conteúdo primeiro, do espírito. Embalagem sem conteúdo para mim não vale nada. Mas falo isso porque sou feio... e débil mental!

Também sou um débil mental porque odeio "reality shows"... afinal, todo mundo gosta, então, é legal. Se você não gosta, você não faz parte desse mundo. Eu acredito que a mídia tem um papel fundamental no processo de enriquecimento cultural de um país, e não é preciso ser um débil mental como eu para entender que a nossa mídia faz cada vez mais o processo inverso, ou seja, denigre, expõe, empobrece e idiotiza o povo. O brasileiro se tornou um povo idiota, burro e ignorante, muito por causa da mídia. Só que ninguém se importa com isso. É legal ver as "tretas" dos reality shows e das novelas.

Olha só, eu gosto de política! Como alguém pode ser tão débil mental? Acredito que na democracia, nada se faz ou conquista se não for através da política. Então eu me envolvo, acredito, sofro, choro, filio-me a partido político, tenho ideologia, tenho mestres, leio, escrevo, luto, tento entender e sofro mais ainda. Sofro por ver que os nossos jovens, que não são idiotas como eu, odeiam política. Sofro por perceber o quanto descartáveis estamos nos tornando. Por perceber que as pessoas não sabem diferenciar a política da politicagem e não sabem que a primeira é necessária, enquanto que a segunda é apenas o mau uso da primeira. Já que todo mundo que gosta de política é débil mental, então, eu o sou. 

Choro com as tragédias ambientais, choro ao ver pessoas lavando calçadas e a água do mundo acabando, choro com atos de terrorismo - seja no Brasil, na França, na Tanzânia ou em Marte, choro com a solidão e principalmente em perceber que o ser humano está menos humano. Viramos robôs dependentes de aparelhos eletrônicos, que por sinal, valem mais do que a pessoa que está ali à nossa frente tentando cuidar de nós. 

Sou realmente um débil mental. E nunca deixarei de ser.

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