sexta-feira, 16 de abril de 2010

O dia em que o Homem lembrou-se que não é Deus

Há caminhos que não permitem volta. Há outros, menos rigorosos, que até deixam a opção do retorno, muito embora este retorno seja cansativo e dolorido, e há ainda, os que funcionam como "iô-iô", não apenas permitindo, como incentivando o tão natural vai-e-vem da vida. Certas questões são simplesmente indiscutíveis, principalmente para os que não são e nem se permitem ser conhecedores de um determinado assunto, conforme já foi dito por diversas vezes. Mas forte, de fato, é aquele que consegue retornar de um caminho, teoricamente, sem retorno.

Esta reflexão nos remete a diversos pensamentos, sobre os mais variados assuntos. Mas, neste momento, detenho-me às questões ideológicas dos seres humanos. E, embora inacreditável, muitas pessoas confundem ideologia com religião. Ser religioso não é ser idealista, precisamente. Talvez até o seja, em determinadas situações não muito comuns. Mas o inverso é simplesmente absurdo. A ideologia parte de um princípio concreto, não apenas de crença mas de atitudes lógicas, por vezes "contrárias aos desígnios divinos", e portanto, não religiosas. Ser idealista é acreditar, não somente em Deus, mas acima de tudo em si mesmo. Não é muito inteligente confundir as duas coisas.

A religiosidade tem aflorado intensamente nas pessoas em tempos recentes. Mas este fato não é impulsionado pela crença em Deus por si própria, e sim pelas adversidades mundanas que de tão adversas, acabam deixando como única opção apegar-se a alguma coisa (no caso, Deus) para que a loucura e a insanidade não tomem conta das pessoas. Não é por amar a Deus que as pessoas buscam as religiões, as Igrejas e os pastores, mas sim por precisarem de um alento, um consolo, um apoio, diante de tantos problemas que a vida moderna nos deixa de herança. Portanto, Deus passou a ser um meio, e não um fim. Não me parece ser isso o que Ele queria.

Diante desta situação, as religiões ganham mais e mais seguidores, as Igrejas seguem lucrando, arrancando bens, criando dogmas e alimentando a crença num Deus que não é real, e sim fictício. Procura-se a crença para amenizar os problemas, faz-se acreditar, em seguida, que eles inexistem dentro da crença, pois estar na crença é estar com Deus, e para Deus nada é insolúvel. Após embutir este pensamento, as pessoas buscam ser líderes, incentivar, trazer mais pessoas para Deus, falar, gritar, suar, e salvar mais e mais almas impuras. O líder tem uma função muito específica dentro de uma crença, e tudo, absolutamente tudo que ele faz e diz, é "em nome do Senhor". Com a liderança consolidada, e o por isto mesmo, o respeito adquirido perante seus pares, Deus passa a ser um instrumento de aquisição de mais e mais seguidores. Tornou-se menor que o próprio pregador, pois Deus não tem a função de trazer os seguidores, ele apenas é um meio utilizado para convencê-los a vir. Assim, de servo inconsolado, a pessoa torna-se alguém capaz, inclusive, de manipular livremente o nome do Senhor.

Mas chegou o dia em que o rio mudou seu curso. As crenças passaram a ser menores, as palavras insuficientes, as Igrejas ineficazes. Chegou o dia em que acreditar por acreditar, não adianta, pois Deus cansou-se de ser apenas um meio para que as pessoas possam vir a atingir um sucesso profissional, pessoal, amoroso, ou seja lá do que for. Neste momento, Deus mostrou a que veio, e provou que é Dele a imensa força que rege o universo, e que diante desta força, nós, crentes ou não, somos exatamente o mesmo pequenino e insignificante grão de areia. Agora as coisas estão andando diferente, e Deus deixou de ser um instrumento para o sucesso mundial, tornando-se, portanto, o único e verdadeiro detentor da verdade absoluta. Pessoas estão morrendo, a natureza está revoltada, as mudanças climáticas são drásticas, e orar, rezar, fazer penitência, não está resolvendo mais nada.

Precisamos, por fim, unir-nos como irmãos, abrir mão dos julgamentos, das vaidades, dos meios que justificam os fins e da arrogância de acharmos que somos donos de nós mesmos. Diante de todas as catástrofes que agora assistimos, estuperfatos e inertes, somos obrigados a chegar à compreensão de que religiões e crenças convenientes nada mais significam, pois enfim, chegou o dia em que o Homem lembrou-se que não é Deus.

2 comentários:

Marcela Fernanda disse...

Muito interessante o texto! Eh muito claro que Deus não dá Sua glória a ninguém, muito menos ao homem, antes, fomos separados para proclamar Sua glória ao mundo. Mas, como vc mostrou, mtos se esqceram disso, e passaram a proclamar 'as suas glórias'... Não foi pra isso que Deus nos criou, não foi pra isso que Ele mandou Jesus, não foi pra isso. É por isso que é muito claro (na Bíblia) que "Ele está procurando os verdadeiros adoradores, aqueles que adoram em espirito e em verdade".
Que cada catástrofe que está acontecendo no mundo, nos sirva (pelo menos) para reconhecer que somente Ele é DEUS!
Abraços,
Belo post.

Adryana Araújo disse...

Bem interessante o texto. Apesar de longo, ele te prende.
Cabe a nós lembrarmos diariamente que não somos "Deus".

Adryana Araújo
http://vinho-da-alma.blogspot.com