sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Imperfeito, mas gigante

Durante quase cinquenta anos, houve uma nação, no sul da África, que sofreu demasiadamente. Um regime impiedoso, excludente, travestido de uma ordem social que não poderia, sob hipótese alguma, fazer sentido. Este regime praticou crimes, massacrou todo um povo, destruiu os princípios mínimos de bom senso e humanidade em detrimento da estúpida vontade de uma minoria. Menores sendo maiores, maiores sendo nada. 

Havia um regime, mas também havia um homem. 

Um homem pobre, sem muitos recursos. Fraco em suas possibilidades, mas gigante em seus gestos. Um homem que decidiu unir uma nação e com seu exemplo, transformar o mundo. Havia um homem que, numa luta solitária e muitas vezes insana, demonstrou, há muito tempo, como fazer valer a vontade de uma maioria, estabelecendo, desde já, os conceitos de democracia que só virariam "moda" muitos anos depois. 

Havia um homem que vivia, enxergava e agia além do seu tempo.

Este homem foi preso, torturado, amaldiçoado, mas nunca silenciado. Durante quase trinta anos conseguiu fazer do silêncio de uma prisão a sua voz, entoada cada vez mais alta e uníssona nas raízes da história. Voz esta que fez com que o mundo entendesse que a cor da pele nada significa quando há um sentimento chamado amor. 

Era um homem que cometia erros, imperfeito, mas gigante.

Sim, a história não ensina os muitos erros deste homem. Ela não fala das suas falhas políticas, do jogo de interesses ao qual teve que se submeter para continuar vivo, a entoar sua voz mesmo que no silêncio. Mas há uma razão: para um homem que consegue gritar por liberdade e por justiça em tons tão altos, mesmo calado nas teias da prisão, os erros se tornam invisíveis diante do seu colossal coração.

Mas um dia, este homem tinha que se calar, e este dia chegou.

A natureza é implacável, mas os princípios são eternos. Não há falhas, erros ou equívocos que apaguem da memória uma voz que soou tão dignamente e com tanto equilíbrio e brandeza. Esta voz ficará, nos traços da história, nas vidas salvas, na dignidade devolvida. A voz de quem decidiu, mesmo na linha tênue da morte, erguer a sua bandeira e sob nenhuma condição abaixá-la. Esta voz, estes ensinamentos, esta bandeira ficarão para sempre.

Havia um homem, agora há o seu legado. Obrigado, Mandiba. Que Deus e os anjos bons o recebam de braços abertos.

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."  (Nelson Mandela)

Nenhum comentário: