sábado, 5 de julho de 2014

O viaduto que caiu e o jogador que se machucou


Era uma vez um viaduto que caiu. Era uma vez um jogador de futebol que se machucou. Era uma vez uma nação. O viaduto caiu por culpa da incompetência dos governantes desta nação. O jogador de futebol se machucou por culpa de um adversário imprudente e maldoso. A nação acompanhou, entristecida, os dois casos. A nação está organizando uma copa do mundo. A seleção da nação se classificou, apesar do jogador machucado. O viaduto caiu, pessoas morreram, pessoas se feriram, a nação viu, mas nada poderia ser feito para trazer os mortos de volta ou impedir que os feridos se ferissem. A nação cobra uma punição aos responsáveis pela queda do viaduto. A nação cobra uma punição para o adversário imprudente e maldoso. A nação quer que a seleção seja campeã da copa do mundo, mas somente o tempo vai dizer se tudo isso vai acontecer. O problema é que na nação existem algumas pessoas estranhas. As pessoas da nação não sabem separar as coisas. De repente, não são mais os governantes incompetentes os culpados pela queda do viaduto, nem o adversário imprudente e maldoso. O culpado pela queda do viaduto é o jogador machucado, ou as pessoas da nação que lamentaram o fato do jogador ter se machucado. As pessoas estranhas da nação acham que não se pode lamentar o jogador machucado porque o viaduto caiu. O viaduto caiu porque a nação está machucada. O jogador também caiu. Só as pessoas estranhas que não caem. Elas são resistentes, como não foi o viaduto nem o jogador machucado. Se a nação chorar pela queda do viaduto, pelo jogador machucado, pelos governantes incompetentes e pelo adversário imprudente e maldoso, as pessoas estranhas irão gritar ao mundo que tudo isso é um absurdo porque a nação só deveria chorar pelo viaduto que caiu, nunca pelo jogador machucado. Só que o jogador machucado envolve a paixão da nação. O viaduto caído envolve as chagas que tem essa nação. A nação chorou pelos dois. As pessoas estranhas não viram e reclamaram. Elas não sabem separar. Mas continuam ligadas na copa do mundo que está sendo organizada pela nação e, na maioria das vezes, nada fizeram ou farão para que novos viadutos não venham a cair, pois continuam elegendo os mesmos governantes incompetentes. A nação não pode lamentar o jogador machucado, mas pode ajudar a eleger os culpados pelo viaduto caído. No fim, o viaduto, o jogador, a nação, as pessoas estranhas e o adversário imprudente e maldoso se tornaram uma coisa só, porque neste país tudo é uma novela mexicana, sem enredo, sem ordem, sem racionalidade, sem compreensão, e ninguém cala a voz das pessoas estranhas que não sabem separar o viaduto que caiu do jogador que se machucou. Ah, essa nação não é o México. 

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