segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Literatura

Ao ler uma passagem num texto de um dos blogs que costumo visitar, senti uma vontade desenfreada de escrever a respeito de um tema um tanto quanto subjetivo, mas extremamente estigmatizado: Literatura.

Afora todos os livros que eu já li na minha vida, sou formado no curso de Letras e acho que posso emitir uma opinião bastante consciente sobre o assunto, embora essa opinião possa eventualmente ir confrontar-se com o conceito que se faz do que possa vir a ser uma obra literária. Antes de tudo, é necessário dizer que me habituei a gostar de ler através de gibis da Turma da Mônica. Engolia todos eles, e adorava quando ganhava um almanaque (aqueles gibis maiores), onde eu podia além de ler, me divertir com os joguinhos que vinham neles. Daquelas leituras, passei a interessar-me por livros com leitura fácil e simples, literatura infantil, estilo Monteiro Lobato, entre outros, e somente então, já habituado a não desgrudar de um livro, seja lá qual for seu tema, ganhei o mais importante em tudo isso: o prazer pela leitura.

Desde então, este prazer passou a ser exatamente o meu conceito do que é literatura. Confesso que nunca vi em dicionário nenhum que Obra Literária é apenas o que foi escrito dentro das famosas escolas literárias. Ou seja, qualquer coisa que fuja ao modernismo, romantismo, arcadismo, barroco e semelhantes, é subliteratura. Não sei quem inventou este termo, e confesso que fui obrigado a ouvi-lo muitas e muitas vezes, tanto na escola quanto na faculdade, e sempre fui veementemente contrário a ele. De fato, Machado de Assis, Alvares de Azevedo, João Cabral de Melo Neto são grandes escritores. Sem dúvidas há muita qualidade em suas obras, e estas qualidades fazem com que eles pertençam a uma refinada estirpe de literários, mas isso é uma idéia MINHA. Não posso ser preconceituoso a ponto de achar que autores que fogem ao estilo que eu aprecio, sejam descriminados e denominados como "sub". Da mesma forma que leio Machado de Assis, leio Sidney Sheldon, leio Jô Soares e leio Zíbia Gasparetto, e não tenho vergonha de dizer isso. São obras que assim como as chamadas literárias, me causam prazer em ler, embora sejam estilos diferentes. E o que chamam de "escolas literárias" eu chamo de estilos literários, nada mais, tanto os românticos quando os contemporâneos possuem um estilo. Sou totalmente contrário ao conceito que se faz de literatura, e já proferi diversas e calorosas discussões com meus professores por causa disso. Jamais me convenceram a pensar como eles. Criaram uma imagem de literatura tão prejudicial que na verdade estão atrapalhando as crianças e os jovens na aquisição deste hábito tão nobre que é a leitura, afinal, qual a criança de doze anos de idade que vai gostar de ler a complexidade que é Machado de Assis, por exemplo? Ao contrário, essas crianças criam um monstro no hábito de ler, e se perde aí mais uma oportunidade de aumentar o aprendizado daquela criança. Diferente seria, se por exemplo, houvesse o estímulo para que estas crianças lessem textos mais atrativos e menos complexos, porque assim, elas iriam gradativamente buscar textos mais evoluídos, e por vontade própria, assim como aconteceu comigo. Eu acho e vou continuar achando que literatura é como música, é como opção sexual, ou como qualquer outra coisa que dependa de uma escolha. Não que não se possa discutir o fato de gostar de um estilo ou de outro. Penso que todas as coisas são discutíveis, desde que haja argumentos. Mas dentro das discussões, é preciso que haja respeito. Admiro-me como pessoas que se dizem tão esclarecidas e inteligentes ainda se prestam a criar estigmas tão fortes com relação a algo que não passa de arte, e até onde eu sei, arte é um conceito muito pessoal. Tudo que toca a alma profundamente pode ser visto como arte... tudo que causa prazer, é arte, e alma cada um tem a sua!

Precisamos aceitar que existe sim literatura contemporânea, pós-moderna ou como queiram chamar. Aceitar que escritores novos surgem a cada dia, nos textos de cordel, nos blogs, nas cartas de amor ou em qualquer outra manifestação escrita que envolva uma estória ou um fato. Somente nossa opção pessoal vai definir o que é literatura ou não, porque como já foi dito, literatura é exatamente o prazer que temos em apreciar uma obra, seja ela de que tempo for. É hora de entender que esses estigmas e rótulos há tempos não cabem mais, e talvez por isso nossa sociedade seja tão pobre e tão pequena na sua capacidade de refletir, pensar e fazer suas escolhas, visto que aprendemos que devemos gostar apenas do que dizem que é bom, e não do que achamos de fato que o seja.

23 comentários:

Ana Beatriz Frusca disse...

O importante é ler o que te dá prazer. Gosto desde gigbis aos clássicos.
Com certeza existem autores que fazem subliteratura sim visando ser best-seller. Exemplo? sideny Sheldon. só que é uma delícia de se ler. O polêmico Paulo coelho, que eu particularmente não gosto e considero subliteratura sim. E não sou só eu.E nada tem a ver com que não se enquadre em escolas leterárias, e sim aos temas e forma como se escreve. Acontece que sé ele consegue atingir o nisho e vende tantos livros, ele interessa às editoras e atinge um prestígio estrondoso, ainda que não mereça. Há todo o marketing por detrás convencendo ao leitor incauto que ele é bom. Fora os problemas intrínsecos, dou a maior força pra que se leio o que se gosta, e isto vale até pra joranl de esportes ou coluns policiais.
Cada coisa ao seu tempo no que diz respeito a educação. Com certeza, Machado aos 12 anos é over mesmo. Mas subliteratura existe sim.

Beijos.

Camila disse...

Ah sua demora está desculpada ja!
hahahahaha

E sim, sentimentos são traiçoeiros e eu até gosto disso sabe!!!

beijao

(*adooooooro mas adoooor mesmo ler!)

Luifel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luifel disse...

Cara, como o blog foi o meu, penso que deveria me manifestar a respeito.

Concordo absolutametne com o que disse. Quando me referi a literatura dita "marginal", não concordo com esse termo, só o usei por ser empregado pela maioria dos meus pares no ambiente bibliotecário.

Concordo que Kerouac [que foi quem eu citei], Sheldon ou Christie, não sejam literaturas marginais, mas enfim, não somos nós quem damos essas tais classificações, dizem que são os estudiosos, mas sei lá.

Por mais que, por exemplo, não goste da Zibia Gaspareto [como de fato não gosto] não posso pensar q ela seja uma subliteratura.

Peço perdão por, se, de alguma forma, a forma como eu coloquei as coisas na postagem te deixou indignado. Não foi minha intenção.

Abção!

Anônimo disse...

viva a nós os pós-modernistas!
viva a nós os subliterarios!
prefiro ser subliteraria do que ser machado de assis
e prefiro ler Turma da Monica a Machado de Assis
eu acho esse classico da literatura um pé do meu saco inexistente, prefiro mil vezes um quadrinho

:D

Igor Isídio disse...

Também discordo com essa de estabelecer um conceito fixo do que seja a Literatura. Conceito esse estabelecido pelos intelectuais, mas o próprio conceito de "intelectual" anda meio distorcido, pelo menos pra mim.
Eu, por exemplo, não considero intelectual alguém que dê credibilidade à astrologia charlatã.

Nunca é tarde para ser feliz! disse...

Oi menino!!! Gostei demais de ler seu post... nunca tinha parado pra refletir sobre o assunto... eu simplesmente leio o que me der vontade e escrevo o que vem na mente... rsrsrss... legal!!! Bjs

Camilla disse...

Eu sou apaixonada pela literatura que a gente aprende no colégio...
Era a minha matéria favorita!!

Me deu até saudade agora...

Beijos

Tatah Marley's Confissões disse...

Ler é uma arte, não sao todos que nascem com este dom!
\õ/
aaah, amo ler, leio de tudo, acho uma delicia!
E nao, as vacas estão engordando.. sao crises existenciais minhas, tu sabe como é né..
vai passar.
:)
beeeijo

*Raíssa disse...

Eu também engolia os gibis da Turma da Mônica! Minha mãe fez assinatura durante alguns anos pra mim, aí vinha uns 5 gibis de personagens diferentes, 1 revista de brincadeiras e, algumas vezes, o tão esperado almanaque. Acho que vinha mais coisa, mas não estou conseguindo me lembrar agora.

Eu não leio muito, mas também gosto de diferentes tipos de literatura.

Beijos!

Kamilla Barcelos disse...

Várias vezes na minha aula de Literatura há a discussão sobre o que é ou é subliteratura.
Concordo com vc que literatura é aquilo que me dá prazer de ler!

Beth Carolina disse...

Vina... eu amo literatura... era facinada desde os tempos do colégio e motivo total de chacota por conta disso...

Ah... reatei o namoro!

Beijo

Camila disse...

Literatura?!
Sinceramente não consigo definir um significado apenas!
Texto incrivelmente bem escrito Vini!
BeijoOO da Cah

Anônimo disse...

oie
deixei um selo pra vc no meu blog viu
bjos
:D

Ni ... disse...

Ah moço, seu texto leu meu pensamento rs...

beijo e mais beijos...

Anônimo disse...

Com certeza literatura, e arte em geral, vai muito além dos rótulos pré existentes.

Texto brilhante, Vini,
assim como tudo o que vc escreve.
Bjo ^^

Olirum disse...

Minha matéria preferida sempre foi matemática, sempre tive algo contra a literatura, até hj!
mas me encanto de vez em quando com as grandes obras de importantes autores.
Ótimo texto, pra variar!

Paula Barros disse...

Tentei ler com calma, mas mesmo assim penso que tenho que reler são vários temas dentro de um tema.
1- rotular é aprisionar, pensamentos, sentimentos...
2-literatura é mais amplo mesmo. Você escreveu muito bem.
3-Já está sendo discutido e comprovado os valores encontrados nos blogs, os bons escritores anônimos e que infelizmente poucos vão ser conhecidos;
4-existe ainda um grande preconceito quanto aos blogs. Alguns criticam por falta de conheceimento dos bons contéudos existentes nos blogs. Outros por terem o hábito de rotular e ter preconceito antes de conhecer e por outros tantos motivos.

Conhecendo seu blog, seus escritos e o grande conhecimento que você demonstra ter, tirei algumas conclusões:

1- Crianças que gostam de ler gibi tem inteligência diferenciada;
2- Crianças que lêem gibis vão se tornar adultos mais sensíveis e com uma inteligência diferenciada;
3- Crianças que lêem gibis vão aprender a ter sonhos, a realizá-los, a enfrentar as adversidades (o coelhinho da Mõnica até que ajuda rsrs), a ter uma visão ampla de mundo, e das relações humanas.

Penso que seu texto ainda tem mais questões.

abraços e leia gibi

Anônimo disse...

admiro muuuito quem aprecia esse tipo de leitura e respeito muito ..


beijos

Nadezhda disse...

Começei a gostar de leitura pelo mesmo motivo que você. Começei com gibis e fui procurando outras coisas. A primeira vez que li Machado, achei ruim, não quis mais. Não era hora ainda.

Um amigo meu disse uam vez que a escola te ensina a ler, não a gostar do que se lê. E eu acho que deveriam trabalhar mais essa segunda parte.

;)

Anônimo disse...

Teu texto ficou simplesmente perfeito, com todas as abordagens possíveis sobre a 'literatura', os hábitos de leitura, os caminhos que levam alguém ao mundo dos livros. Também acredito que a escola deveria assumir uma maior responsabilidade, discernimento e competência na indicação de livros que realmente fizessem crianças e jovens se interessar por eles. Acredito que este seria um dos melhores caminhos a serem percorridos para que pudéssemos chegar, de fato, a ser um país de gerações que realmente buscam na leitura um prazer a mais. Muito bem escrito o teu texto, amigo!

Deixo-te flores, estrelas e sorrisos, enfeitando o teu domingo. Um beijo no coração!

Dayane Carmona Poeta disse...

Adorei seu tema, e você fala muito bem :)

Gibis da Turma da Mônica também me apaixonei pelas letras através deles..

E lêr é uma arte, faz bem e o melhor faz-nos viajar por outros mundos.

:*

Anônimo disse...

Ahhhhh, sempre tive uma quedinha por certos Estilos Literários, como o Romantismo, o Realismo e o Modernismo, mas não desprezo o que tem de bom nos outros. Até porque cada estilo literário nunca rompe com todas as características do anterior. Acho legal no barroco, por exemplo, o dualismo. Eu sou uma pessoa dual e isso de alguma forma toca meu ser. Já fui criticada por ler certos autores. O Paulo Coelho, por exemplo, é um deles. Já li vários livros dele, e pra falar a verdade, há muitas coisas nele que me chamam a atenção. Cada um deve aproveitar de uma leitura aquilo que lhe cabe e não podemos julgar de uma meneira geral somente por ser aquilo que a maioria lê.

Bjim